Lua Azul

 
Blue moon, you saw me standing alone

Without a dream in my heart

Without a love of my own.

Lorenz Hart e Richard Rodgers

Uma e pouco da tarde, no trânsito lento de Carapina, na Serra, e retornando para o trabalho depois de conversar com o mecânico que está arrumando o meu Puma, ouvi o Sardenberg perguntando:

            - E aí, pessoal? É temperança ou pé na jaca?

Enquanto os ouvintes do programa na rádio CBN enviavam suas respostas, ele anunciou que hoje está acontecendo um fenômeno raro no céu: Hoje é dia de Lua Azul.

Lua Azul é a segunda lua cheia em um mesmo mês e ocorre uma vez a cada dois ou três anos. A expressão, Blue Moon, foi dada pelo Anuário Astronômico Americano lá pelo século 19. Conforme esclarecimento do locutor, a Lua não fica azul, não aumenta o seu brilho, não altera o seu tamanho. É apenas uma coincidência de calendário.

Mas é aí que entra a genialidade humana que encontra motivação para transformar um fenômeno físico em algo que afeta a existência do ser. Dizem os místicos e outros adeptos que a Lua Azul é uma Lua de Amor, uma época em que os seres viventes, se dada a devida atenção a ela, podem transformar suas vidas em níveis mais elevados de espiritualidade. Os rituais, as oferendas e os luais vão se multiplicar nesta noite por todos os recantos do planeta. Uma parcela importante da população mundial vai se concentrar em planos mais sublimes do convívio humano. Velas serão acesas, preces serão recitadas, haverá meditação, concentração, pedidos e promessas. Muitas pessoas vão se amar mais. Talvez o mundo se torne menos ruim.

Eu, pelo meu lado, às vezes até penso que poderia me transformar numa pessoa mais nobre, com pensamentos mais holísticos e harmoniosos entre o físico e o imaterial, menos egoísta, menos racional; Uma pessoa capaz de olhar para o meu semelhante de forma mais misericordiosa. Mas acabo concluindo, na boa, o que eu queria mesmo, além de ter mais amigos e mais convívio, era mais grana. E depois pensaria em melhorar qualquer coisa na vida e no espírito.

Daí me deu vontade de ligar para o Sardenberg e dar minha opinião:

- Pé na Jaca, com convicção! Até porque hoje é sexta-feira e estou com vontade de abrir uma garrafa de vinho e começar bem o meu fim de semana. Temperança? Nem pensar!

O Sardenberg haveria de dar uma boa risada sobre a minha opinião e teceria algum comentário. E eu estaria satisfeito com minha participação no seu programa de rádio.

Não liguei para ele, mas continuei ouvindo o programa. Interessantes as respostas das pessoas. Percebi que, cada um, ao seu próprio modo, justificava sua escolha relacionando-a sempre a uma situação de trabalho ou de família. Sempre algo exterior a si própria, nunca simplesmente afirmando sua vontade pessoal. Ninguém disse “Quero enfiar o pé na jaca porque quero ser feliz”.

Assim são as pessoas atribuindo a outrem a motivação de suas iniciativas.

O programa ia avançado quando foi dito que a Lua Azul vai acontecer outra vez em julho de 2015.

Logo pensei:

- Isso se o mundo não acabar antes, em 21 de dezembro deste ano, conforme previsão do calendário maia, tão insistentemente veiculada e alardeada nos documentários dos canais da TV a cabo.

            - Será?

Quem viver verá...
 

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