Encontro

 
À meia luz o som do Johnny Rivers, aquele tempo que você sonhou

Senti na pele a tua energia quando peguei de leve a tua mão

A noite inteira passa num segundo, o tempo voa mais do que a canção.

Quase no fim da festa num beijo, então, você se rendeu.

Na minha fantasia, o mundo era você e eu.

Michael Sullivan e Paulo Massadas.

Ao chegarem ao churrasco e assim que se viram, um grande contentamento surgiu entre eles. Imediatamente, o mundo inteiro foi transportado para a época de sua juventude, um tempo em que tudo era possível: Os sonhos mais ousados ainda estavam por vir e o futuro ainda não aparecia na sua real dimensão para eles. Aos 16 anos tudo era possível na vida e nada poderia impedir sua conquista, plena de felicidade e magia.

- Olá, como vai?

- Olaaaá... Você?

- Quanto tempo não te via.

- Mais de trinta anos.

- Trinta e cinco anos.

- Nossa!

- Então, como vai a vida?

- Casei, descasei, casei, trabalho, filhos, cabelos brancos e tinturas, contas sem fim.

- Não foi muito diferente comigo.

Estavam na festa de encontro dos ex-alunos de escola. Fizeram cursos técnicos diferentes, mas naquele tempo, mantiveram um relacionamento intenso, próprio da adolescência sem siso, inconsequente e muito feliz, bem ao estilo dos loucos anos 1970. Assim como eles, havia outros que se reencontravam depois de tanto tempo. Gente que nem lembrava um do outro, mas estavam ali, cada um trazendo sua própria história. Todos viveram e chegaram àquele encontro.

Conversaram muito durante a festa e em vários momentos trocaram confidências e se olharam com a cumplicidade das lembranças de coisas feitas durante aqueles dias longínquos: Os cheiros, os sabores, as visões, o clima. Tardes quentes de desvairado amor, confissões, poesias e promessas.

Hoje percebem que a experiência que tiveram juntos foi tanta que ainda sobrevive um sentimento de intenso carinho, cuidadosamente guardado na alma de cada um. Algo como um secreto tesouro. Tão grande que vem a vontade de retomar a vida a partir daqueles dias de tresloucada juventude.

A conversa entre os dois se estendeu bastante e estiveram concentrados um no outro todo o tempo. Não enxergavam mais ninguém à volta. Não enxergavam nada a não ser seus próprios olhos, não bebiam nada a não ser da fonte de suas recordações, de onde saciaram a sede da saudade tão grande e agora tão gostosamente aliviada.

Alguns dos presentes na festa chegaram reparar que aqueles dois ficaram isolados dos demais, de tanto que conversavam.

Quando a festa chegou ao seu auge, os organizadores falaram ao microfone, fizeram discursos, pronunciamentos e promessas de mais eventos futuros.

Depois voltaram às cervejas e às comidas. Uns beberam além da conta, outros comeram demais, mas todos se divertiram.

Apenas aqueles dois se alimentaram um do outro, e o alimento foi a história contada de cada um.

A festa durou o dia todo e já se aproximava a noite quando terminou. Os convidados se despediram.

Além dos garçons que arrumavam a casa de festas empilhando mesas e cadeiras, carregando objetos e varrendo o chão, só restaram aqueles dois.

Deram, então, um abraço apertado numa onda de intenso carinho, e no meio da despedida, um deles disse ao outro:

            - Você quer se encontrar comigo outra vez?

            - Quero.