Aipédi, aipódi, aifone

 


Domingo, mais ou menos uma e meia da tarde, a mulher passando o dia com sua turma de artesanato, os filhos cuidando de suas próprias vidas. Sozinho, fui almoçar no shopping.

Entrei num desses restaurantes de comida padronizada-pasteurizada, coloquei qualquer coisa no prato e fui para a balança pagar. Pedi um chope.

A praça de alimentação estava quase lotada, mas consegui uma mesa bem localizada, de tal modo que pude ver a maioria das pessoas no ambiente.

Almocei sem pressa. Bebi o meu chope. Bebi mais um. Estava melhor que a comida.

Olhando distraído ao redor percebi como tem gente com aparelhos do tipo smartphone. Impressionante, pensei. Todo mundo tem. Uns falando e outros digitando. Eu não tinha noção da quantidade de gente que usa essas maquininhas.

Uma senhora no canto direito falava reclamando algo com alguém do outro lado da linha, enquanto um rapaz ao seu lado a olhava com atenção.

Um adolescente digitava mensagens velozmente; Outro, ferozmente, estava numa luta memorável com um inimigo virtual. Acho que ganhou a guerra, a considerar o sorriso de satisfação que deu quando a musiquinha parou de tocar.

Mas, o que mais chamou minha atenção foi uma família à minha frente. Pai, mãe, duas filhas e cinco telefones em uso. Simultaneamente!

É verdade, tinha umas Coca-Colas e uns sanduíches sobre a mesa, mas quase abandonados. Mais importantes eram os aparelhinhos. Tá certo, de vez em quando alguém dava uma mordida ou um gole no refrigerante. Mas o que se via e ouvia mesmo era uma concentração absoluta nas telinhas e uns grunhidos emitidos por alguém do grupo reagindo contra algo que acontecera no aparelho. Essa era toda a comunicação que faziam entre si, e parece que é o que bastava entre eles.

Nada contra o avanço da tecnologia no mundo. Tecnologia que permite, em tese, promover a aproximação entre as pessoas, mas o que eu percebi foi o distanciamento exagerado entre os membros daquela família. Tão perto uns dos outros na mesa do restaurante e ao mesmo tempo tão distantes.

Foi uma cena patética, até meio triste. Tive receio de ser indiscreto de tanto que eu os observava. Porém, levando em conta como estavam entretidos e absortos em seus mundinhos, não sei se eles poderiam vir a me perceber os observando. Não houve um instante em que eles olhassem ao redor de onde estavam, ou mesmo um instante que se olhassem ou trocassem alguma palavra entre si.

É uma pena ver pais dispensarem a mais simples forma de comunicação com os seus filhos que consiste meramente conversar. Ao invés, se perdem em algo que, penso comigo, é uma perda de tempo. Sim, porque o tempo passa, e passa ligeiro. Daqui a pouco, as meninas terão se transformado em moças e os pais, envelhecidos, hoje, não terão garantias que fizeram a coisa certa.

Por outro lado, existe a constatação de que esta é a marcha do mundo, e não há como dela fugir, ou lutar contra. Seria a mesma história do herói combatendo moinhos de vento. É lamentável que as pessoas deixem o convívio de lado e passem a valorizar o relacionamento com as máquinas.

Lembrei-me do comercial de um carro que está passando na TV, onde um garotinho, no banco de trás, telefona para o pai ao volante, pedindo que pare num posto de gasolina porque precisa fazer xixi.

Terminado o almoço, permaneci ali à toa. O pessoal da mesa ao lado foi embora e continuei pensando na situação que presenciara.

Momentos depois, para não esquecer os detalhes, eu saquei também meu tablet para tomar algumas notas sobre o que vi, o que agora se transforma nessa crônica.

Meio sem graça, quase ao final do texto, percebi o quão furiosamente estava teclando. E não via nada à minha volta.

É cosi.

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