Viva Rubem Braga!

por Giovanni Angius, em 11/1/2013.

Há um grande vento frio cavalgando as ondas, mas o céu está limpo e o sol muito claro.

Duas aves dançam sobre as espumas assanhadas.

As cigarras não cantam mais.

Talvez tenha acabado o verão.

Rubem Braga.

Se ainda estivesse conosco, seria um velhinho, bem velhinho, e completaria amanhã exatamente 100 anos de vida. Refiro-me a Rubem Braga, o cronista capixaba considerado um dos maiores do Brasil. Para mim, é o melhor de todos. Da sua pena surgiram muito mais que crônicas, o tipo de literatura que envelhece com o passar dos dias, na mesma proporção em que são esquecidos os fatos ou notícias que a geraram. A sua crônica carregava (melhor dizendo, carrega) uma sutil poesia que possui a capacidade de perenizar suas idéias ao longo do tempo, eternizando o preciso instante em que veio à luz do mundo. O instante mágico da criação da arte, antes de se revelar no meio físico onde ela se materializa, sobre a folha de papel em branco. Ele era da época da máquina de escrever.

Nascido numa brava terra, berço de tanta gente importante no mundo das artes, um dia disse que, mesmo com ordens expressas do Todo Poderoso que o proibissem entrar no céu, é provável que, à porta, São Pedro titubeasse em cumpri-las ao ser informado que ele era de Cachoeiro de Itapemirim.

Eu o considero como um farol para onde volto o olhar sempre que me faltam referências ao escrever sobre as coisas que eu vejo no mundo. É como um modelo por onde busco me orientar, um caminho antes trilhado e que agora é mais fácil seguir porque a trilha já foi aberta. Com elegância, mas bem próximo da linguagem comum, sem rebuscamentos, ele estabeleceu um estilo que o colocou em destaque na grande galeria dos escritores brasileiros. Uma vez, ele disse que sempre escrevia para ser publicado no dia seguinte, como o marido que tem que dormir com a esposa todo dia: “pode estar achando gostoso, mas é uma obrigação”. Era seu trabalho, afinal. Tinha rotinas e obrigações a serem cumpridas. Compromisso em entregar o texto na hora certa. Para grande parte das pessoas, escrever uma frase por dia é como romper pedreiras a marreta, uma tarefa fatigante. Agora imagine escrever uma crônica todos os dias, durante anos, sempre de altíssima qualidade, isso sim é um trabalho imenso.

E foi assim que se tornou grande e proporcionou aos seus leitores momentos de deleite com sua obra, inspirando tanta gente interessada no ofício de escrever sobre o cotidiano. Em seu primeiro livro (O Conde e o Passarinho), aos 22 anos, já alertava ao mundo e para quem o lesse que não tinha pretensão de ser conde, antes, orientava sua vida à introspecção, gostava da solidão. Coisas de artista. Melhor dizendo, manias de poeta.

Amanhã e por mais alguns dias, por todo o Brasil, serão publicadas notícias sobre o centenário de nascimento do Velho Mestre. Será uma bela oportunidade para relembrar sua vida e sua obra, trazer aos olhos daqueles que pouco leem, uma arte tão finamente elaborada e de tão prazerosa leitura. Vai ser mostrado que o Rubem, humano, já não está aqui, mas o poeta, este vive vivíssimo.

Pela força que possui o seu texto, Rubem Braga há de viver eternamente, sobreviverá ultrapassando as dimensões físicas do tempo, numa perpétua presença na alma daqueles que o sabem ou o virem a saber.

- Viva Rubem Braga, nosso cronista maior!

- Viva!
 

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