A falta que a chuva faz
O Sol muito quente e a tarde abafada, sem vento, compunham o
ambiente perfeito para os etéreis habitantes da praia, os seres privilegiados
que a frequentam e permitem expor seus corpos sobre as areias, nos bares da
orla ou ao longo do calçadão. Gente quase nua praticando o grande ofício do ócio
de se torrar no calor do verão. E eu, na avenida, com uma inveja danada, me
sentindo como um pedaço de carne assada no bafo da churrasqueira do carro que
inventou de quebrar o ar condicionado justo hoje, que tenho um punhado de
coisas para fazer na rua: Cartório, banco e supermercado (Êta programinha ruim!).
Tento minimizar o desconforto levando o pensamento para
longe, mas é difícil. Bom mesmo seria também ficar à toa, mas numa sombra bem
ampla e refrescos gelados, porque Sol e calor, como hoje, não me agradam.
E foi vagando por esses suarentos pensamentos que me lembrei
do problema, este sim, importante: O Brasil está à beira de um racionamento de
energia elétrica porque os reservatórios das hidrelétricas estão a níveis muito
baixos. A todo instante os noticiários informam que as usinas estão com suas represas
cada vez mais vazias por causa da falta de chuva neste verão.
Apesar de possuir a maior bacia hidrográfica do mundo e de
ter optado pela geração de energia elétrica através dela (uma decisão
historicamente acertada), o Brasil é um país continental e seu consumo é crescente,
muitas vezes acima do que é disponibilizado pelo sistema, o que ocasiona, atualmente, na relação consumo/geração
um equilíbrio instável. Em passado recente já convivemos com racionamento de
energia elétrica.
Num país aonde mais de 90% de sua energia elétrica é de
origem hídrica e com restrições políticas e ambientais severas em relação
aos projetos de usinas com reservatórios de acumulação, que possuem a
capacidade de regular o fluxo de água nas turbinas geradoras, as usinas
hidrelétricas a fio d’água são priorizadas, ainda que com polêmicas
intermináveis e atrasos nas obras.
Ocorre que em épocas de seca, as usinas a fio d’água
simplesmente diminuem sua geração justamente por falta de água. A solução é
colocar em funcionamento as termo-elétricas que são tocadas a combustíveis
fósseis, que por sua vez, contribuem para o aumento da poluição atmosférica. A
conta fica mais cara e adivinha quem paga tudo? Ganha um doce quem acertar...
Sempre sob o mote da defesa do meio ambiente ou de interesses
indígenas, as querelas sobre a construção de novas usinas hidrelétricas se
arrastam nos meios políticos e acabam na Justiça. E esta, como é do
conhecimento geral, contribui fortemente para que os atrasos sejam cada vez
maiores. Os custos crescem e embotam aquele que deveria ser o verdadeiro
caminho a ser trilhado, qual seja, o de prover o país com fontes de energia
capazes de suprir suas necessidades e garantir a segurança para o país e para
sua população.
E sabe o insólito neste contexto? A presidente Dilma, ou presidenta, como gosta de ser chamada,
insiste em dizer que haverá redução das tarifas de energia elétrica na casa dos
20% para o próximo mês. O povão adorou a notícia. Mas, ao mesmo tempo, o seu Ministro
das Minas e Energia, Edison Lobão, informa que haverá aumento de cerca de 3% nestas
mesmas contas por causa da entrada das térmicas em funcionamento. Um espanto. Em
quem acreditar? Este é o Brasil...
Mas não há de ser nada porque no final, tudo há de se
resolver nesse imenso país abençoado por Deus e bonito por natureza. E Guarapari
é logo ali. No próximo sábado, estarei lá, se Deus quiser. Com falta d’água ou
não.
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