Amor na noite de Natal


A campanhia tocou quando ele finalizou o molho de gorgonzola. “Muito bom, consegui organizar tudo justo na hora que ela chegou”, pensou.

Em segundos abriu a porta e a viu.

            - Linda. Você está linda...

Puxou-a suavemente pelas mãos para dentro do apartamento e a abraçou com ternura.

            - ... e cheirosa.

Ela sorriu e o encarou com seus olhos claros. Beijaram-se ternamente.

            - Então, quero ver se você sabe mesmo cozinhar, ou se é conversa fiada – disse ela brincando e com uma pontinha de ironia na voz.

            - Hoje teremos um menu especial para nossa noite de Natal. Para a Entrada, teremos bruschetta acompanhada de um vinho moscato, um espumante muito bem recomendado pelos críticos. Eu faço com fatias finas e pequenas de baguette, mas com a receita tradicional: tomates picados, azeite, manjericão, orégano, e uma pitada de pimenta-do-reino branca. Não uso pão italiano. Em seguida, você vai experimentar meu filé mignon ao molho de Gorgonzola. Maravilha das maravilhas! Acompanha batatas sauté e pennette di grano duro. Vamos beber um Rosso di Montalcino, safra especial. E para coroar nosso jantar, teremos bananas flambê ao conhaque e vinho de sobremesa. O fogo atrai e fascina.

            - Então é verdade mesmo que você cozinha?

            - Você vai ver. Ou melhor, você vai ver as cores e sentir os aromas; vai comer e se deliciar. Vai ficar um pouco tonta também, porque beberemos vinho. Além de Noel, nesta noite Baco também estará conosco.

            - Humm, isso está parecendo uma orgia, percebo que há más intenções por aqui...

            - Ao contrário, querida, eu diria que são as melhores intenções possíveis.

Deram algumas risadas a caminho da cozinha. Eles viviam o encantamento dos primeiros encontros, e enquanto se conheciam, cada novidade entre os dois os deixavam mais enamorados.

Sentaram à mesa. A brisa suave e morna de verão entrava pela porta da varanda. A música bem escolhida para a ocasião murmurava acordes que soavam em perfeita harmonia com os pratos que ele havia preparado. O tilintar das taças e os brindes ao encontro. A penumbra oscilante de pequenas velas formando um jogo de luz e sombra mostrava, mas também escondia detalhes de seus gestos, fisionomias e roupas.

Jantaram, beberam, riram. Beijaram-se e se amaram numa noite de encantamento, sem sentirem o avançar das horas nos ponteiros do relógio, como se o tempo estivesse parado e não houvesse referências físicas de espaço. Viveram uma embriaguês mágica de ternura e carinho juntamente com a experiência dos cinco sentidos físicos.

O sexo. Desejaram que o tempo cristalizasse após o gozo, e que o mundo se tornasse uma eternidade sonolenta e perfumada.

Assim foi a noite de Natal para aqueles dois amantes que, num acaso cósmico dentro das impossibilidades do caos, se esbarraram e viveram felizes, efêmeros e frágeis momentos de amor.

Adormeceram cansados, e se houvesse uma testemunha naquela noite, ela juraria que Noel e Baco realmente estiveram presentes.

Pela manhã, tomaram café e trocaram pequenos presentes.

- Feliz Natal, amor.

- Feliz Natal.

Pouco depois, ele a acompanhou até à porta e se despediram. Marcaram um encontro para daqui uma semana.

            - Mas preciso confirmar porque não sei como está a programação da galera.

            - Está bem, ficamos assim. Se der a gente se fala.

            - Tchau, então.

            - Ah, você cozinha bem mesmo, cara. Valeu.

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